terça-feira, 15 de novembro de 2011

O passo inicial do rádio no Brasil

As duas primeiras estações de rádio brasileiras foram criadas especialmente para um evento em comemoração ao centenário da Independência Brasileira, que aconteceu em 1922 no Rio de Janeiro. Se tratava de uma exposição com discursos, apresentações musicais e contava com a presença de figuras ilustres e autoridades como o presidente Epitácio Pessoa. No dia do evento, foram montadas duas estações de rádio que trabalhavam com pequena potência, a SPC e a Western Eletric, para a recepção do público, foram distribuidos 80 aparelhos nas praças públicas em Petrópolis, Niterói e São Paulo.



Western Electric, responsável pela Estação da Praia Vermelha





Westinghouse, responsável pela Estação do Corcovado


Essas rádios transmitiam os discursos e tocavam músicas, porém a baixa qualidade de transmissão e o ruído causado pelas pessoas presentes no evento, fazia com que os ouvintes não se interessassem pelo conteúdo transmitido, mas um dos ouvintes, o Sr. Roquette-Pinto, tinha uma outra vis
ão daquele momento: "A verdade é que durante as solenidades comemorativas de 1922, muito pouca gente se interessou pelas demonstrações então realizadas pelas companhias Westinghouse (Estação do Corcovado) e Western Eletric (Estação da Praia Vermelha). Creio que a causa principal desse desinteresse foram os alto-falantes instalados nas torres do Serviço de Meteorologia (Pavilhão dos Estados). Eram discursos e músicas reproduzidos no meio de um barulho infernal, tudo roufenho, distorcido, arranhando os ouvidos. Era uma curiosidade sem maiores conseqüências. No começo de 1923, desmontava-se a estação do Corcovado e a da Praia Vermelha ia seguir o mesmo destino se a Governo não a comprasse. O Brasil ficaria sem rádio. Eu vivia angustiado porque já tinha a convicção profunda do valor informativo e cultural do sistema, desde que ouvira as transmissões que foram dirigidas na época pelos engenheiros J.C. Stroebel, J. Jonotskoff e Mario Liberalli. Uma andorinha só não faz verão; por isso resolvi interessar no problema a Academia de Ciências, presidida pelo nosso querido mestre Henrique Morize. E foi assim que nasceu a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a 20 de abril de 1923."



Rádio Sociedade


A estação do Corcovado teve seu fim junto com o evento e foi desmontada para ser levada aos Estados Unidos, já a de Praia Vermelha foi comprada pelo governo para a implantação do serviço de Radiotelegrafia.
Após o evento e ter conhecido o potencial dessa nova forma de transmissão de idéias, Roquette buscou se associar a quem tinha o conhecimento técnico para montar uma estrutura que permitisse a ele difundir suas idéias e levar conhecimento e cultura para as pessoas. E assim, no dia 20 de abril de 1923 surgiu a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro.
A Rádio Sociedade do Rio de Janeiro iniciou suas transmissões no dia 1º de maio de 1923, às 20:30h e teve como estúdio uma sala de física da Escola Politécnica, se utilizando do equipamento
radiotelegráfico da Western Eletric que havia sido trazido dos Estados Unidos para a Exposição do Centenário de Independência. Para a inauguração da rádio, Roquette-Pinto preparou um discurso que foi anunciado pela voz de Caubi Araújo. Assim era dado o primeiro passo para a difusão da arte, cultura e conhecimento para a população.



Edgar Roquette-Pinto


A legalização da Radiodifusão

Para Roquette, a radiodifusão precisava ser legalizada e regulamentada pelo governo, então buscava convencer as autoridades a mudar sua forma de pensamento, pois como o próprio dizia a ilegalidade do rádio era, “um regulamento anacrônico, carranca, retrógrado, infeliz, que proibia a prática da T.S.F. (telefonia sem fio) pelos cidadãos.” Nesse período, as “galenas”, que eram as difusoras, eram apreendidas pela polícia quando encontradas.
Em 20 de agosto a radiodifusão era autorizada pelo presidente Arthur Bernardes, mas apenas para fins educativos, sendo atividade irregular a utilização fins lucrativos.

A Rádio se tornou uma reunião de intelectuais nacionais e estrangeiros, recebendo visitas ilustres, como Albert Einstein; Madame Curie, e o general e cientista francês que aperfeiçoou a telefonia sem fio, Ferrié, além do crítico e historiador francês, Paul Hazard e o autor Fillippo Marineti entre tantas outras celebridades intelectuais.



O presidente Arthur Bernardes

O declínio da Rádio Sociedade

Por conta de não poder se utilizar de formas de publicidade para comercialização e geração de renda, a Rádio Sociedade não conseguiu se manter no ar com seu propósito original que era levar apenas cultura e educação para a população, e por não conseguir manter sua estrutura pela falta de verba, cedeu a emissora ao Ministério da Educação e Saúde, para que a mesma continuasse com seu propósito inicial.

A então Rádio Sociedade se tornou Rádio Ministério da Educação, sofrendo uma reformulação e a compra de novos equipamentos, porém mantendo todos os funcionários, o que havia sido uma exigência de Roquette na doação da rádio. Em seguida do momento de estruturação, a Rádio Ministério da Educação passou a determinar um horário obrigatório para as emissoras de rádio brasileiras transmitirem diáriamente programas de conteúdo educacional.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

"Quando o rádio se torna popular"

No início da década de 1930, a situação havia mudado e o rádio se tornara um veículo mais popular. Em São Paulo (que oferecia os maiores salários do país) um aparelho de rádio custava em torno de 80$000 e o salário médio de uma família de trabalhadores era de 500$000 por mês. Ainda na década de 1930, surge o rádio comercial, após a emissão de um decreto permitindo a inserção publicitária – Decreto nº 21.111, de 1º de março de 1932, que autorizava 10% da programação da rádio a ter comerciais (atualmente é 25%). Como resultado, a produção erudita passou a ser popular e os interesses dos proprietários passaram de educativos para mercantis. Por outro lado, a competição gerou desenvolvimento técnico, popularidade e status às emissoras. A década de 30 marcou o apogeu do rádio como veículo de comunicação de massa, refletindo as mudanças pelas quais o país passava. O crescimento da economia nacional atraía investimentos estrangeiros, que encontravam no Brasil um mercado promissor. A indústria elétrica, aliada à indústria fonográfica, proporcionaram um grande impulso à expansão radiofônica. Vamos fazer uma breve viagem por essa década que foi tão importante para a comunicação no nosso país, A Década de Consolidação do Rádio.

Com a criação do primeiro documento sobre Radiodifusão em 1931, as rádios começam a divulgar anúncios e se estruturar como empresas.
Os primeiros anúncios foram do sabonete Gessy:



E do melhoral:



Preocupação com a audiência, Passa do cultural/erudito para o popular/lazer e diversão:






Acima Carmen Miranda, Elisa Coelho e Trio de Ouro. Foram alguns dos cantores que começavam a faze sucesso na época.


Surgem os primeiros profissionais, os programistas. E os programas passam a Ter horários fixos.

Primeiro programa de rádio comercial no Brasil, 1932. Ademar Casé revolucionou o rádio, na época.



O Programa Ademar Casé também lançou o primeiro Jingle do Brasil. “Pão Bragança”, autoria de Antônio Nassara, para a Padaria Bragança. E o jingle do sabonete Lifeboy.




Em 1934, Getúlio Vagas cria o programa “A hora do Brasil no rádio”.
 Rádio Kosmos cria o primeiro auditório em 1935:



Auditório da Rádio Kosmos

Em 1935 é criada a Rádio Jornal do Brasil, voltada a informação;
Em 1936 é criada a rádio Nacional, considerada um marco da transformação do rádio no Brasil. Emissora que além de grandes comunicadores, ajudou a divulgar ainda mais os talentos da música popular brasileira como:





Acima Orlando Silva e Vicente Celestino.


E então, a partir de 1936: Época de Ouro do rádio, toda a publicidade passa a ser destinada ao rádio.


Como vimos, a década de 30 foi marcada por inovações tecnológicas que influenciaram de forma significativa a sociedade e a vida de cada pessoa. Os meios de comunicação, em especial o rádio, tiveram um papel importante na divulgação de idéias e na formação de opiniões.
Encurtando distâncias e transmitindo informações e entretenimento, o rádio mantinha as pessoas a par dos acontecimentos. Grande parte da população brasileira tinha o rádio como forma de lazer. Por meio da música, informações, humor e variedades, o rádio levava a realidade e o sonho aos lares.